quinta-feira, 29 de julho de 2010

LENDO A PREDESTINAÇÃO COM AS LENTES DA PRESCIÊNCIA

“Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença. Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos, por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade...”.

“Nele fomos também escolhidos tendo sido predestinados conforme o plano daquele que faz todas as coisas segundo o propósito da sua vontade” (Ef 1.4,5;11).


Os três versículos supracitados formam a base clássica calvinista para assegurar que Deus, em Sua inquestionável soberania, já escolheu alguns para receberem o céu por prêmio, e os demais eleitos para a exclusão desse céu, predestinados ao inferno.

Tais afirmativas focadas em textos isolados levam invariavelmente a conclusão de que a Bíblia é contraditória. Como conciliar tais declarações acima com os versículos que indubitavelmente afirmam que o Pai celeste não faz acepção de pessoas, que nEle não há parcialidade, ou com os textos que dizem que Deus ama a todos os homens e não quer que nenhum se perca, que Deus ofereceu gratuita e graciosamente a salvação ao mundo inteiro?

Simplesmente não há possibilidade de encontrar solução! Ou Deus ama a todos ou Deus ama alguns que foram escolhidos para a salvação. Acreditar que Deus ama a todos e prova isso escolhendo alguns para salvar é um contra-senso que beira a insanidade. Se os versículos de Efésios são suficientes para a compreensão das mecânicas da redenção, somos forçados a dizer, por exemplo, que Pedro mentiu ao escrever que Deus é paciente, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento (2 Pe 3.9b). Somos obrigados a afirmar que os registros de Jo 3.16; 1 Tm 2.4; 1 Tm 2.6; Tt 2.11; 1 Jo 2.2; 1 Jo 4.14 estão errados.

Daí o perigo de se estabelecer doutrinas baseadas em um ou poucos versículos, mormente versículos difíceis ou mesmo obscuros, razão da existência da tantas seitas, realidades residuais da rebeldia com eficiência única para levar adeptos ao afastamento das verdades reveladas nas Escrituras e ao eterno banimento da presença de Deus.

Chegou o momento de esclarecer as discrepâncias a partir de um questionamento intelectualmente honesto. As contradições escriturísticas são apenas aparentes, ou para além da superfície, estão num nível profundo? Erros humanos grosseiros num livro divinamente inspirado, ou nada disso?


Equalizando as contradições

Os calvinistas usam também o capítulo 9 de Romanos para validar sua visão de mundo dos favoritos de Deus. Utilizam por exemplo Rm 9.11-16. Acompanhe:

"Todavia, antes que os gêmeos nascessem ou fizessem qualquer coisa boa ou má - a fim de que o propósito de Deus conforme a eleição permanecesse, não por obras, mas por aquele que chama - foi dito a ela: "O mais velho servirá ao mais novo".
Como está escrito: "Amei Jacó, mas rejeitei Esaú”.
E então, que diremos? Acaso Deus é injusto? De maneira nenhuma!
Pois ele diz a Moisés: "Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão"
Portanto, isso não depende do desejo ou do esforço humano, mas da misericórdia de Deus".


Fica a pergunta: acaso o texto diz que Deus elegeu Jacó para mandá-lo para o céu e Esaú para enviá-lo o inferno? Não diz o texto que o a eleição tinha o propósito explanado na frase “o mais velho servirá ao mais novo”? O texto não teria relação com a escolha de um povo por meio do qual viria o Messias e não seria Jacó o pai das doze tribos desse povo?

É claro que Deus teria que eleger um povo de onde viria o salvador da humanidade e uma pessoa para ser o progenitor dessa raça. E aqui sim entendemos com clareza como atua a soberania divina, em contraposição ao esforço ou desejo humano. Deus é quem determina a eleição de um povo a respeito do qual está escrito “a salvação vem dos judeus”.

Algumas versões da Bíblia traduzem a frase “Amei Jacó, mas rejeitei Esaú” como “Amei a Jacó, e odiei a Esaú”. Aqui o apóstolo Paulo toma de empréstimo as expressões do livro de Malaquias 1.3. No caso do último livro do AT o contexto retrata a nação de Israel (Jacó) em contraposição à nação de Edom (Esaú).

Saindo do isolamento desértico de versículos - deixo essa característica para as seitas - e contextualizando com toda a Bíblia, evidentemente Deus não odeia ninguém porque Deus é amor (1 Jo 4.16). Segundo, em Malaquias, Deus não está falando da pessoa Esaú, mas da nação proveniente dele, Edom. Sobre a questão, o raciocínio de Norman Geisler, um dos mais renomados eruditos cristãos - e de Thomas Howe -, é pertinente e digna de aceitação:

“A nação de Edom merecia a indignação de Deus pela ‘violência feita a teu irmão [Israel]’ (Ob 10). Eles se posicionaram ao lado dos inimigos de Israel, fecharam o caminho por onde poderiam escapar, e até mesmo entregaram aqueles que tinham permanecido (vv. 12-14).
Finalmente, como no caso dos nicolaítas, Deus odeia as obras do pecador, mas não o pecador em si. João diz aos crentes que eles devem odiar as obras dos nicolaítas, as quais Deus também odeia (cfAp 2.6)”. (Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e Contradições da Bíblia, p. 331).

Como Geisler, muitos eruditos cristãos entendem que, na carta aos Romanos, Paulo está lidando com eleição nacional e não individual. De todo modo o texto de Rm 9.11-16 não têm nada que ver com Deus eleger alguns para o céu e a maioria para o inferno.

Outro texto favorito dos calvinistas é Romanos 9.18: “Portanto, Deus tem misericórdia de quem ele quer, e endurece a quem ele quer”.

Novamente o texto relaciona-se ao cumprimento dos propósitos de Deus aqui na terra, só. Relacioná-lo a predestinação de alguns para o céu e outros para o inferno é estultícia.

Um texto adicional usado pelos predestinacionistas fatalistas é Rm 9.20-22:

"Mas quem é você, ó homem, para questionar a Deus? Acaso aquilo que é formado pode dizer ao que o formou: 'Por que me fizeste assim?’
O oleiro não tem direito de fazer do mesmo barro um vaso para fins nobres e outro para uso desonroso?
E se Deus, querendo mostrar a sua ira e tornar conhecido o seu poder, suportou com grande paciência os vasos de sua ira, preparados para a destruição?"

Também não está relacionado ao exemplo de alguém que estava predestinado a ir para o inferno antes mesmo de nascer, não podendo questionar a Deus sobre esse destino infeliz. Esse trecho precisa ser contextualizado com o capítulo 2 do livro de Romanos, por exemplo, Rm 2.4. Deus não exerce sua liberdade de escolha, de decisões, arbitrariamente. Deus demonstra grande paciência com o vaso para uso desonroso, objeto da sua ira, com a finalidade de levá-lo ao arrependimento. Mas a paciência e a bondade de Deus podem ser rejeitadas.


Presciência: a chave para a compreensão da predestinação

Por fim, felizmente, encontramos na Bíblia versículos que encerram as contradições. O fator determinante é o pré-conhecimento ou presciência de Deus. Nos versículos subseqüentes, preste atenção nas palavras em negrito.

O primeiro texto é Romanos 8.29,30:

“Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que justificou, também glorificou”.

O segundo texto é 1 Pe 1.1,2:

“Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos de Deus, peregrinos dispersos no Ponto, na Galácia, na Capadócia, na província da Ásia e na Bitínia, escolhidos de acordo com o pré-conhecimento de Deus Pai, pela obra santificadora do Espírito, para a obediência a Jesus Cristo e a aspersão do seu sangue: Graça e paz lhes sejam multiplicadas”.

A Bíblia não poderia ser mais clara. Tudo se baseia no pré-conhecimento de Deus. Vasos para honra ou desonra, vasos de ira, preparados para destruição, eleitos... tudo é determinado pela antevisão dos fatos e pessoas. Deus é onisciente, para Ele passado e futuro é sempre presente. Deus sempre soube quais seriam as pessoas que rejeitariam a salvação e quais se renderiam a Ele em arrependimento e as predestinou:  Aquelas que Deus previu, antes da existência do Universo, que iriam rejeitá-lo, as preparou para serem vasos de ira e desonra. E Deus providenciou para que, aquelas que por vontade própria seriam receptivas ao evangelho, fossem alcançadas pelas boas novas do reino; essas que não resistiriam ao chamado foram predestinadas para serem vasos de honra para a salvação eterna. Tudo se fundamenta na presciência. O chamado para salvação é para todos, porém somente são salvos os que aceitam tal chamamento.

A palavra de Deus é realmente fantástica, deixou dois registros objetivos para conciliar as aparentes contradições entre os versículos que parecem afirmar que Deus escolhe arbitrariamente quem vai para o céu e, portanto só amando alguns, com os textos que dizem que Deus ama a todos, não desejando que nenhum morra, mas que todos se arrependam, posto que o sacrifício de Cristo na cruz foi em prol de todo o mundo.

Aqueles que de antemão conheceu seriam aqueles que Deus anteviu que ao ouvir Sua voz não endureceriam o coração; seriam aqueles que ao ouvir a batida de Jesus na porta do coração, abririam a porta; esses, Deus conheceu, predestinou, justificou e glorificou. São os escolhidos conforme o pré-conhecimento de Deus Pai.

“Deus, de forma clara, certificou-se de que o evangelho seria apresentado a todos que Ele sabia que creriam em sua palavra. Portanto, a presciência é a chave da predestinação” (Dave Hunt, Em Defesa da Fé Cristã, p. 305).

Agora fica até mais clara a predestinação de alguns para ministérios. Novamente a base é a presciência, como foi o caso do profeta Jeremias.

"Antes de formá-lo no ventre eu o escolhi; antes de você nascer, eu o separei e o designei profeta às nações" (Jr 1.5).

Trata-se de comissionamento baseado no direito soberano divino de convocar alguns para serviços específicos. No caso de Jeremias, serviço profético.

Alguns dizem que a presciência determina a predestinação. Prefiro conjecturar em minhas limitações humanas que pré-conhecimento e predestinação são dois atributos que coexistem num só ato de Deus.

Nos próximos artigos veremos que há uma profusão de versículos no AT e NT que mostram explicitamente a responsabilidade do homem em rejeitar ou receber a salvação em Cristo. E como a livre escolha humana não compromete a soberania de Deus. Os versículos são numerosos. Lamentavelmente a religião opta pelos versículos em menor quantidade e mais difíceis para alimentar heresias pertubadoras que não se apresentam como tais. Para os princípios essenciais da palavra de Deus não deve haver democracia. Entre dois posicionamentos antagônicos concernentes a salvação, um é verdade e o outro é mentira. Desnudar para desconstruir o que historicamente se apresenta como esquema explicativo da verdade sendo ao contrário uma mentira é uma necessidade.



Em Cristo que nos liberta das vacas sagradas das teologias humanas para vivermos sem os fardos religiosos adoecedores.



Por Sandro Moraes

O DEUS DO APARTHEID

Como é possível Deus amar a todos e escolher alguns para salvar?

Parece uma pergunta absurda? Mas traduz precisamente uma das implicações de uma (in)compreensão das Escrituras de uma corrente teológica que voltou com ímpeto nos últimos tempos nos EUA para ser o centro de ardorosos ou mesmo odiosos debates: a predestinação calvinista. 

Vociferam os proponentes desse movimento chamado calvinismo que Deus, antes da existência dos seres humanos ou mesmo do universo, predestinou alguns para a vida eterna, tendo excluído os demais, os destinando à perdição eterna: uma imortalidade cujo principal sofrimento reside na própria separação do criador. A base para a eleição dos favoritos é a soberania divina, que jamais pode ser questionada, apenas aceita rigorosa e cegamente. Afinal, pode o vaso questionar o Oleiro? Até mesmo o mais fervoroso ateu consideraria tal proposição uma incoerência filosófica, tendo em vista a idéia de um Deus justo, amoroso e perfeito; uma incompatibilidade conceitual com um Deus que não faz acepção de pessoas, conforme propagado pelos cristãos e de acordo com a própria descrição do caráter dEle nas Escrituras. Os calvinistas costumeiramente defendem de modo ferrenho e até extremado suas convicções. Sofrem do mesmo mal que costuma acometer os marxistas e esquerdistas: pensam ser as pessoas mais inteligentes do mundo.
  

Entretanto, um olhar desapegado das tradições religiosas produtoras de engessamento e anulação do pensamento crítico perceberá que aceitar o posicionamento calvinista implica em reconhecer que a Bíblia é contraditória e, portanto indigna de crédito. Nunca considerei a idéia de um Deus que já decidiu quem irá para o céu e quem irá para o inferno como sendo bíblica, mesmo no início da minha caminhada cristã. Com o perpassar dos anos e o aguçamento das percepções das revelações escriturísticas, discerni que a predestinação calvinista não é apenas incoerente, é antibíblica. 

A dificuldade básica em defender tal posicionamento está no fato de que Cristo morreu por todos os homens exatamente porque Deus ama a todos os homens. Vejamos o que a Bíblia diz com indiscutível clareza:

Jo 3.16: “Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.”

1 Tm 2.4: “que deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade.”

1 Tm 2.6: “o qual se entregou a si mesmo como resgate por todos. Esse foi o testemunho dado em seu próprio tempo.”

Tt 2.11: “Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens.”

2 Pe 3.9: “O Senhor não demora em cumprir a sua promessa, como julgam alguns. Ao contrário, ele é paciente com vocês não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento.”

1 Jo 2.2: “Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos pecados de todo o mundo.”

1 Jo 4.14: “E vimos e testemunhamos que o Pai enviou seu Filho para ser o Salvador do mundo.”


Dificuldades sem solução

Diante dos versículos postos fica uma grande dificuldade para os predestinistas fatalistas: Como Deus poderia amar o mundo inteiro, todos os homens, e como prova desse amor pré-seleciona a maioria dos que ama para enviá-los ao inferno?

Como o apóstolo Pedro poderia escrever que o Senhor não quer que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento, se Ele já havia predestinado e, portanto, pré-programado a maioria para não se arrepender e perecer? 

Como Deus poderia inspirar Tiago a exortar-nos a não fazermos acepção de pessoas, se o próprio Deus elegeu os seus favoritos antes da existência de qualquer um deles?

Mais: como Deus poderia exigir que nós amássemos os nossos inimigos se nem Ele mesmo foi capaz de amar os inimigos que Ele próprio criou?

Como os apóstolos Pedro, Paulo e João poderiam afirmar que Deus não faz distinção, amando todas as pessoas, se só escolheu alguns para salvar? Não seria o caso de chamar os apóstolos de mentirosos?

Se Deus já decidiu quem será salvo, para quê pregar o evangelho a todo o mundo como o próprio Senhor Jesus ensinou, se a maior parcela das pessoas foi predestinada a negar o evangelho?

Tentar responder a esses questionamentos com coerência lógica harmonizada ao caráter de Deus é um desafio impossível de ser superado. Resta apelar para o argumento do mistério.

E se Deus ama a todos, por que, ao invés de escolher alguns para salvar, não escolheu a todos? Não seria tal gesto mais condizente com um Deus de amor que não discrimina ninguém?

Até os universalistas, que crêem que todos serão salvos, são mais coerentes.

O erro grosseiro dos calvinistas é atribuir à soberania divina a base da salvação. A salvação fundamenta-se no amor de Deus. Só o amor divino explica a dádiva da salvação imerecida concedida ao homem. Fosse a soberania a base salvífica restaria a todos nós o merecido inferno, pois é para lá que todos nós de fato deveríamos ir meritoriamente por conta dos nossos infinitos crimes contra o Criador e contra a própria humanidade.


Por que nem todos são salvos

Mas se a salvação é para todos os homens, se o sacrifício de Cristo na cruz foi em benefício de toda a humanidade, então por que nem todos são salvos? Só resta uma alternativa: a possibilidade do homem rejeitar tão grande amor e tão grande salvação a partir de sua própria vontade.

Ninguém vai para o inferno porque Deus quis. Jesus disse que o inferno foi criado para o diabo e seus anjos e daí se infere que o homem é um intruso e não era projeto original de Deus que seres humanos fossem para lá. Do contrário Jesus teria dito que o inferno foi criado para o diabo, seus anjos e para os seres humanos que Deus quis enviar para a perdição eterna. 

A palavra de Deus garante, como mostram os versículos anteriormente mencionados, que Deus ama a todos os homens e oferece a sua salvação graciosamente a todos. Deus usará todos os recursos para que os homens creiam no evangelho, na salvação exclusiva em Cristo. Os que não forem salvos desprezaram o evangelho, rejeitaram a salvação oferecida por Deus a todas as pessoas. 

Concordo com o apologista Dave Hunt ao afirmar que a sugestão de que Deus não quer que toda a humanidade seja salva é uma difamação do caráter dEle.

“Sugerir que Deus não quer que toda a humanidade seja salva é uma difamação do seu caráter, e a Bíblia seria contraditória! Como poderia ser que Deus, que diz que devemos amar nossos inimigos, não amasse os seus? É inconcebível que Deus tenha o desejo de enviar alguém que Ele realmente ama para o inferno. Na verdade, muitas pessoas vão para lá pelo fato de rejeitarem a salvação que Deus, amorosamente, nos ofereceu por meio de sua graça.” (Dave Hunt, Em Defesa da Fé Cristã, pg 304) 

Veja como a Bíblia é clara ao afirmar que é responsabilidade do homem receber ou rejeitar a salvação de Deus. Preste atenção nas palavras destacadas: 

(Rm 1.28-32)

“Além do mais, visto que desprezaram o conhecimento de Deus, ele os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem o que não deviam.
Tornaram-se cheios de toda sorte de injustiça, maldade, ganância e depravação. Estão cheios de inveja, homicídio, rivalidades, engano e malícia. São bisbilhoteiros,
caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, arrogantes e presunçosos; inventam maneiras de praticar o mal; desobedecem a seus pais; são insensatos, desleais, sem amor pela família, implacáveis.
Embora conheçam o justo decreto de Deus, de que as pessoas que praticam tais coisas merecem a morte, não somente continuam a praticá-las, mas também aprovam aqueles que as praticam.” 


(Rm 2.4-11)

“Ou será que você despreza as riquezas da sua bondade, tolerância e paciência, não reconhecendo que a bondade de Deus o leva ao arrependimento?
Contudo, por causa da sua teimosia e do seu coração obstinado, você está acumulando ira contra si mesmo, para o dia da ira de Deus, quando se revelará o seu justo julgamento.
Deus "retribuirá a cada um conforme o seu procedimento."
Ele dará vida eterna aos que, persistindo em fazer o bem, buscam glória, honra e imortalidade.
Mas haverá ira e indignação para os que são egoístas, que rejeitam a verdade e seguem a injustiça.
Haverá tribulação e angústia para todo ser humano que pratica o mal: primeiro para o judeu, depois para o grego; mas glória, honra e paz para todo o que pratica o bem: primeiro para o judeu, depois para o grego. Pois em Deus não há parcialidade.”

O texto é claro e objetivo: por egoísmo, a maioria dos homens despreza a bondade de Deus, rejeita a verdade e segue a injustiça. Deus fará um julgamento justo porque não faz acepção de pessoas.


Soberania ou Tirania?

Um problema grave dos calvinistas é confundir soberania com tirania. Um Deus que escolhe quem condenar e quem salvar antes que qualquer pessoa viesse à existência não poderia ter critérios de julgamento a não ser a arbitrariedade e, portanto não poderia ser justo. Tal Deus, ou melhor, deus, seria um tirano, pior que qualquer déspota que já passou por esta terra. Tal deus não seria um Deus de amor e sim de ódio e preconceito, um ditador divino merecedor de todo o nosso desprezo. O apóstolo Paulo declarou que as exigências da Lei estão gravadas em nosso coração, e afirmou: “Disso dão testemunho também a sua consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os” (Rm 2.15). Deus gravou em nossa consciência a noção do bem e do mal, de certo e errado. Um Deus reto e justo não poderia chamar de indesculpável alguém que foi predestinado para rejeitá-lO. Ao contrário, Deus é que seria indesculpável, visto que seria o verdadeiro responsável, o real culpado pelo pecado da rejeição da verdade daquele que foi pré-programado para isto. Lamentavelmente é isso que afirma o hipercalvinismo: que Deus pré-determinou não apenas quem não será alcançado pela graça irresistível, como também o pecado do não arrependimento e todos os pecados que acompanham um ser não regenerado pelo Espírito de Deus. Que absurdo. Religião realmente mata! 


Estranho deus

Fico a imaginar um cenário hipotético no qual eu seria um não-salvo. Diante do tribunal de Deus vejo minha sentença de condenação ao inferno. Fico impossibilitado de perguntar: “Deus, eu nem pedi para nascer e vim ao mundo pré-condenado a perdição eterna. Tu decidiste este desígnio em teu coração antes mesmo que eu ou qualquer outra pessoa nascesse e ainda assim estava determinado por ti que eu viria ao mundo para morrer e ir para o inferno". Eu não poderia fazer tal questionamento a esse 'estranho deus' porque ele é “soberano”, “justo” e “me ama”. Que prova de amor!!! 


Idolatrias

Cristo é a verdade que liberta, inclusive das idolatrias religiosas. Apego ferrenho a correntes teológicas e filosóficas é idolatria, na medida em que elas nos fazem levantar bandeiras que não são o evangelho e ocasionam rupturas onde deveria haver unidade. Conferir infalibilidade a homens, como o papa do protestantismo João Calvino, ou a Armínio é pecado. Armínio errou ao afirmar que pessoas podem perder a salvação como se esta fosse baseada no esforço e mérito humanos. Calvino por seu turno não foi um papa infalível ao afirmar que Deus já definiu quem vai para o céu e quem irá para o inferno. Herege infalível seria uma expressão mais adequada. Nossa referência é Cristo!


Antropocentrismo

Os expoentes do calvinismo costumam afirmar que a idéia da escolha do homem em receber ou rejeitar o chamado de Deus é corolário do humanismo, antropocentrismo e teologias liberais.  Acho curioso e até engraçado essas afirmações! O que há de mais antropocêntrico e humanístico que um deus feito à imagem e semelhança de Hitler que habita no meio dos seus favoritos? O deus que conheço que exercita seu favoritismo tendo misericórdia apenas com seus adoradores excluindo os demais como idólatras merecedores de emboscadas e da morte é Alá.    

Intitulei este artigo como “O Deus do Apartheid”, porque a noção de que Deus elege seus favoritos é mais um corolário de antigos empenhos humanos de fazer parte de uma classe especial e privilegiada para dominar o igual. Na política e religião praticamente de todas as culturas em todas as épocas observamos este fenômeno: classe especial dos ungidos, white supremacy (supremacia branca), Ku Klux Klan, raça ariana, os brâmanes, iluminados, gurus, templários, mestres ascendidos, etc. Desejar a superioridade sobre o outro é um mal praticamente onipresente na história. Fiquei feliz ao saber que nos EUA importantes livros estão sendo publicados para combater as idéias maléficas que querem fazer de Deus um promotor de segregação, de um "apartheid espiritual". Espero que o combate e a rejeição a tais idéias se intensifiquem por aqui. 

Dizem que o antagonismo entre a predestinação e a livre escolha é o embate entre o calvinismo e o arminianismo, visão míope e estreita que só tira o foco do que é realmente importante. Muito além disso, é a diferença entre a verdade das Escrituras e as elucubrações insanas, as invenções e heresias difamatórias deturpadoras do caráter amoroso de Deus. 


Por Sandro Moraes


São Luís-MA/Brasil
 
 

Depravação Total da Humanidade: Teoria Desnecessária

Fui apresentado ao calvinismo em 1989 aos 15 anos de idade, quando não havia sequer 1 ano do meu novo nascimento, quando renasci a partir da vida de Deus que passou a habitar em mim. Embora não tivesse lido o Novo Testamento inteiro até aquele momento, as idéias calvinistas desde o princípio não me passavam a impressão de serem bíblicas. Sempre foi claro para mim pela a leitura dos Evangelhos que a salvação era um desejo e uma oferta de Deus para toda a humanidade, só que a maior parte dela a rejeita.

O calvinismo é um corpo teórico imbricado e labiríntico da Reforma Protestante criado para explicar o “simples” Evangelho, sistema tão contraditório e confuso que por tal razão acaba sendo a própria negação do Evangelho. É impossível para um calvinista se impuser com sua “doutrina” sem se contradizer. Nunca considerei o calvinismo bíblico. Após milhares de horas e anos a fio estudando tal sistema, comparando-o com a Bíblia, percebi que o calvinismo não somente não era bíblico, é antibíblico. A tentativa de explicar as Escrituras é a própria ininteligização delas. Tamanha é a capacidade desse sistema teórico para desfigurar o caráter de Deus conforme é descrito na Bíblia, que Ele se torna irreconhecível.


Criei tão grande repulsa pelo calvinismo que infelizmente não posso atender aos pedidos de amigos para que eu “pegue leve”, ou evite prosseguir tocando no assunto, a despeito de me relacionar bem com cristãos calvinistas. Mas há uma boa notícia: por hora é o último artigo que pretendo escrever nesta série. Quero clarificar, contudo que não combato pessoas e sim idéias, as idéias de João Calvino e de outros que as abraçaram.
   

O Que Significa Depravação Total?

“A Depravação Total é um dos assim-chamados cinco pontos do calvinismo. Segundo essa doutrina, o homem não regenerado é absolutamente escravo do pecado. Em virtude disto, ele é totalmente incapaz de exercer sua própria vontade livremente para salvar-se. Assim, no que diz respeito à salvação, este homem depende da obra de Deus, que deve vivificá-lo a fim de que possa crer em Cristo” (Wikipédia).  

Ainda segundo essa teoria o homem é incapaz até mesmo de responder positivamente ao chamado de Deus para a salvação. Não pode crer em Cristo se antes Deus não regenerá-lo para isto. Daí conclui que se alguns são salvos é porque Deus “soberanamente” escolheu alguns para salvar.  Esses são os eleitos. Já os não-eleitos ficam proibidos por Deus de crer em Cristo. Alguns versículos bíblicos são utilizados para sustentar tais explanações. 

Rm 3:9b–12: ...tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado; como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. 

Ef 2:1–3,5: Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais. ... e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo – pela graça sois salvos -, ... 

6 Tt.3.3-5: Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros. Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com os homens, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo. 

Jo.6.44: Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no última dia 


Ainda de acordo com o calvinismo quando Deus converte um pecador, e o transfere para o estado de graça, Ele o liberta da sua escravidão natural do pecado, e, somente pela graça, o habilita a livremente querer e fazer aquilo que é espiritualmente bom. Mesmo assim, por causa de certas corrupções que permanecem, o homem redimido não faz o bem perfeitamente e nem deseja somente aquilo que é bom, mas também o que é mau. 

Cl.1.13: Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, ... 

Jo.8.36: Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres. 

Fl.2.13: ... porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.

Rm.7.15,18,19,21,23: Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e, sim o que detesto. 
Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum: pois o querer o bem está em mim, não, porém, o efetuá-lo
Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço
Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim
... mas vejo nos meus membros outra lei que, guerreando contra a minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros. 


O cristianismo é a única expressão de fé, ao contrário de todas as religiões, que afirma ser uma falácia a bondade natural do homem. O filósofo John Locke defendia que o homem nasce como uma tabula rasa, ou seja, em estado de inocência. Por seu turno Russeau, introduzindo a filosofia humanista, dizia que o homem nasce bom e este é corrompido pela sociedade. Semelhantemente, o islamismo expressa que todos os homens nascem puros, naturalmente bons, mas são desviados pelo ambiente. Já para o cristianismo e conforme afirma a Bíblia, o homem nasce em pecado e, não pode ser naturalmente bom. A Bíblia é única escritura a declarar a salvação pela fé e não por obras, sendo estas frutos daquela. 

É óbvio que a idéia do progresso moral do homem, como defende, por exemplo, o kardecismo, não se confirma na história. Com o crescimento de todas as modalidades de violência, o que se percebe é uma involução ou retrocesso moral. O homem não é naturalmente bom e sim pecador, como afirma a Bíblia e a história humana corrobora isto. Entre todas as noções a Bíblia é a única a estar com a razão. Não é opinião pessoal, os fatos atestam isto. Duvida? Você percebeu como a sua cidade está, a cada ano, mais insuportavelmente violenta, e como os noticiários estão cada vez mais banhados de sangue e corrupção?   


Somos Totalmente Depravados?

Que o homem é pecador por natureza é indubitável, defini-lo como imoral ou depravado cabe. Agora é possível afirmar que a humanidade é totalmente depravada como defende o calvinismo?

“Não há ninguém que faça o bem, ninguém que busque a Deus” é um tipo de literalismo que redunda em idéias equivocadas. Embora seja possível afirmar que os homens sejam depravados, é equivocado acrescentar o “totalmente”. Os calvinistas dizem que esse termo refere-se unicamente a “incapacidade total”, simplificação estranha tendo em foco a pesada carga conotativa que tal expressão carrega. O que quer que queira definir, a expressão “Depravação Total da Humanidade” é exagerada. 

Ninguém é totalmente depravado. Nem os maiores déspotas o foram. Em filmes e biografias descobrimos que mesmo Hitler dispensava um tratamento cortês às mulheres e crianças. Quando ele adentrava o banheiro, os colegas apagavam o cigarro em respeito e consideração ao “camarada” Hitler. Se fôssemos totalmente depravados cometeríamos o mal sem restrições, assassinaríamos, nos prostituiríamos, roubaríamos, cometeríamos estupros, gravaríamos filmes pornôs o tempo inteiro. Se a humanidade fosse totalmente depravada já teria chegado a extinção, alguém já teria apertado o botão que daria início a uma sucessão de lançamentos de arsenais nucleares.  Se fossemos totalmente depravados não existiria o humanitarismo. O que falar então dos que salvam vidas? Que a expressão “depravação total” vai além do necessário, é inquestionável.      

A (in)compreensão de que os homens são escravos ou estão mortos e portanto incapazes de responder de forma positiva ao chamado de Deus é outro equívoco. Os calvinistas confundem escravidão ou morte espiritual com escravidão e morte física. Estar espiritualmente escravo ou morto não significa zumbificação da consciência nesta existência. O ser humano claramente é capaz de fazer escolhas morais por que Deus imprimiu Sua lei na consciência de todos os homens, razão pela qual todos são indesculpáveis. O homem está capacitado a escolher o bem ou o mal, a negar ou confessar Cristo. 

Se fossemos totalmente depravados o apóstolo Paulo não teria dito que o querer fazer o bem estava nele, porém não o efetuar”. Teria dito que “querer o mal e praticar o mal” estavam nele. Se fossemos totalmente depravados Jesus não teria dito que os homens “sendo maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos”. Teria dito que “sendo maus só sabem dar más coisas aos filhos”

Os textos como o de Romanos apenas mostram que o homem é pecador, em contraposição a Deus, que é santo. Mostram também a incapacidade do homem para salvar-se pelas obras, porque todas as nossas justiças são como “trapos de imundícia” diante de Deus (Is 64.6)

Os calvinistas igualmente afirmam que se o homem tivesse o poder de escolha para aceitar ou rejeitar a salvação, isto daria a ele o mérito pela salvação em caso de sim à oferta divina. Seria um co-salvador com Cristo. Grave insanidade, uma vez que receber o dom da salvação implica exatamente em reconhecer a total incapacidade para salvar-se. Mais um argumento dispensável para afirmar que Deus ama alguns e os predestinou ao céu. Essa foi a idéia básica de Calvino que, entre aceitar que Deus ama a todos sem fazer acepção de ninguém, como afirmam as Escrituras, preferiu acorrentar-se a loucura: que Deus ama alguns e os salvou soberanamente, uma idéia claramente antibíblica e herética.   

Teríamos que mudar uma grande quantidade de versículos para que a Bíblia se ajustasse ao calvinismo. Por exemplo, o texto clássico da evangelização, João 3.16, teria que ficar assim: “Porque Deus amou alguns do mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que alguns pré-programados para nele crê não pereçam, mas tenham a vida eterna”.  


Porque o Livre Arbítrio é Necessário

Seria um crime Deus forçar alguns a irem para o céu a contragosto deles, assim como seria criminoso mandar para o inferno quem não desejasse ir para lá. A salvação é um dom, um presente de Deus e um dom só pode ser entregue a alguém disposto a recebê-lo. O convite divino “escolhei hoje a quem sirvais” (Js 24.15) perpassou os séculos e ecoou em todas as mentes. Só o poder de escolha (e o homem está claramente capacitado para isto) poderia gerar genuíno amor

Não há amor ou lealdade verdadeira quando uma mulher não resiste a um estupro, quando alguém se submete a fazer algo contemplando a ponta de uma faca ou a extremidade de uma arma, não há amor ou lealdade genuínos quando se serve a um regime tirano sob o medo da morte. Só o livre arbítrio seria o portal de entrada para o amor autêntico. Deus queria que o homem e os anjos tivessem o poder e a liberdade de escolha para amá-lo espontânea e livremente. Deus jamais desejou criar autômatos ou marionetes pré-programados em um software espiritual na eternidade passada para amá-lO. 

O livre arbítrio foi a porta de entrada do amor e também a porta de entrada do mal. Só o livre arbítrio explica a origem do mal. Deus não poderia ser responsabilizado pelo mal em Lúcifer, como afirma o hipercalvinismo, pois ele foi criado em perfeição, como registra Ezequiel 28.15. Nem culpabilizado pelo mal no homem, posto que, conforme Eclesiastes 7.29, Deus fez o homem reto, mas este se envolveu em muitas intrigas.

E para os calvinistas que dizem que o livre arbítrio só existiu até o Eden, ele prosseguiu em Caim conforme está registrado em Gn 4.7

Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo”.

O Livre Arbítrio é evidente e está expresso em Deuteronômio 11.26-28 assim: "Eis que, hoje, eu ponho diante de vós a benção e a maldição: a benção, quando cumprirdes os mandamentos do SENHOR, vosso Deus, que hoje vos ordeno; a maldição, se não cumprirdes os mandamentos do SENHOR, vosso Deus, mas desviardes do caminho que hoje vos ordeno...


Os versículos de
Deuteronômio 28.1,2;15 são semelhantes: "Se obedeceres à voz do Senhor teu Deus...todas as bênçãos virão sobre ti..." (b) "Mas se não deres ouvidos à voz do Senhor teu Deus...virão sobre ti todas estas maldições... 

E para aqueles que acreditam que a liberdade de escolha fere a soberania divina, cito Jeremias 18.8-10

Se a tal nação, porém, contra a qual falar se converter da sua maldade, também eu me arrependerei do mal que pensava fazer-lhe. No momento em que falar de uma nação e de um reino, para edificar e para plantar, se fizer o mal diante dos meus olhos, não dando ouvidos à minha voz, então me arrependerei do bem que tinha falado que lhe faria”.


A Soberania Divina e O Livre Arbítrio Humano Não se Excluem Mutuamente

A soberania de Deus é sempre a palavra final. Benção para a obediência e juízo para a rebelião. Salvação para os que crêem e perdição eterna para os incrédulos. E benção ou juízo são condicionais ao nosso arrependimento ou obstinação pelo pecado. Salvação só em Cristo. Assim está determinado pela soberania divina e o homem não pode mudar isto. Lembra-se de Nínive destinada à destruição não o sendo porque se arrependeu?

E enfatizo: para que as idéias calvinistas prevaleçam, uma profusão de textos bíblicos precisaria ser modificada.


A Correta Compreensão da Predestinação 

Quero dizer que a predestinação existe nas Escrituras, entretanto não conforme a ótica calvinista. No Evangelho de Mateus capítulo 10, versículo 16, Jesus diz que “muitos são chamados, mas poucos escolhidos”. Ou seja, há um chamamento geral de Deus para a salvação, um convite a todas as pessoas para que venham a crer em Jesus Cristo como único salvador. Os poucos “escolhidos” são os que foram receptivos ao chamado divino e, portanto, eleitos, predestinados para a vida eterna. Deus já os conhecia antes da fundação do mundo (Rm 8.29,30; 1 Pe 1.1,2) e os conduziu a Jesus conforme João 6.44 que diz: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia”

Judas Iscariotes não foi predestinado por um decreto soberano divino (não seria tirano?) para trair Jesus, tanto que o Mestre não desistiu de recuperá-lo até o último minuto. Jesus não excluiu Judas da ceia mesmo sabendo que este iria traí-lo, e até o chamou de amigo. No alto da cruz, Jesus orou pelos “predestinados” a crucificá-lo ou pedir a Sua crucificação: “Pai perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”.  E creio que essa oração foi atendida por Deus no dia de pentecostes quando cerca de 3 mil pessoas foram salvas. E foram porque Jesus orou, e creio que muitas daquelas pessoas estavam entre os que pediram a crucificação do Messias.


O Inferno: O Maior Louvor ao Livre-Arbítrio Humano

O inferno é o maior louvor ao livre-arbítrio humano. Não há nada mais lógico. Se alguém, com suas palavras ou atos, declarar: “Deus, deixe-me em paz!”, como fazem os luciferianos, satanistas e ateus, para exemplificar, Deus vai respeitar esse desejo. É como se Deus dissesse assim: “Seja feita a tua vontade! Criei o inferno para o diabo e seus anjos, mas se você quer ficar separado de mim eternamente, tai o inferno para você!” A soberania de Deus é solapada? De modo nenhum, porque a soberania de Deus já decretou qual é o único caminho para a entrada no céu: Jesus. Nenhum ser humano que queira entrar no paraíso conseguirá isto com os métodos da religião. Os que respondem positivamente ao chamamento divino e são predestinados para o céu são os que dizem para Deus: “Seja feita a tua vontade”. E a vontade de Deus é que “todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tm 2.4), é que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento” (2 Pe 3.9)


Sentença: A Predestinação Calvinista Difama o Caráter de Deus

A opção calvinista de que Deus tiranamente predeterminou quem seria salvo e quem iria passar a eternidade no inferno é indiscutivelmente a franksteinização das Escrituras, a difamação do caráter amoroso de Deus, e se alguém aceitá-la tem que, inescapável e forçosamante, aceitar que a Bíblia é contraditória. Tudo o que foi defendido nos últimos artigos é a única opção coerente. A teoria predestinalista precisa ser rejeitada e, melhor, denunciada como aberrante. 


Convite à Razão

Findo por hora minha saga anti-calvinista, podendo retomá-la se julgar necessário em qualquer tempo. Deixo claro que não estou combatendo os calvinistas. Entendo que são meus irmãos na fé. São salvos (exceto os que são crentes nominais), porém o erro deles é terem feito de Calvino um “papa infalível” e acreditar que foram salvos por terem sido selecionados como “favoritinhos” de Deus na eternidade passada. Não posso e me recuso a aceitar e respeitar um sistema teórico que transforma Deus em um Hitler divino, que selecionou a sua raça ariana espiritual na eternidade passada para a salvação, baseado numa injusta arbitrariedade, trazendo aos demais a “solução final” do tipo hitleriana: o inferno. Rejeito a idéia de que Deus é o autor de uma apartheid espiritual, que não ama a todos, que odeia a maioria e mostra isso enviando-os gratuitamente ao tormento eterno, que não deseja que  ímpio se arrependa, ao contrário, que se dane, que detém a autoria do mal, culpado pelo pecado daquele que o nega. 

Definitivamente, o “deus” de Calvino não está na Bíblia.

No entanto, ser anti-calvino não dá o direito a ninguém de me rotular de arminiano. Os arminianos também erram ao acreditarem que o crente pode perder o dom da salvação depois de recebê-lo. Compreendem mal à perseverança dos crentes, ou o “cair da graça”. Salvação não é algo que se conquista ou se perde por mérito ou demérito. Se assim fosse, a salvação seria pelas obras e não por fé. Todos os que são salvos perseveram na fé. E mesmo que se afastem temporariamente dos caminhos de Deus, como “filhos pródigos” voltam e se reconciliam com o Pai. Alguém rejeitar a salvação depois de recebê-la é algo estranho. Novo nascimento desfeito? Representação estética do grotesco! Como ficariam então os textos de Jo 5.24 e 10.27-29? Entendo que os apóstatas nunca foram salvos, embora tenham experimentado alguns benefícios de Cristo.

Nem calvinista, nem arminiano. Tenho plena certeza que os apóstolos condenariam as correntes teológicas e os rótulos separatistas. Sejamos apenas bíblicos!

Com efeito, um sistema religioso é desafiado. Tentar me enquadrar não funciona, sou um pensador livre dos esquemas prontos, norteado apenas pelas Escrituras. Pensamentos teológicos são retidos positivamente em minha mente somente em se coadunando com a “Palavra”. Severo? Sim, se julgar pertinente. Estou cansado da ética permissiva do aberrante e do medonho, blindadora do biblicamente aparente, todavia profano. Deus como um tipo de Hitler? Não me curvarei ao politicamente correto que declara herege o pseudocristão, mas que se cala diante do que confunde e divide o corpo de Cristo.  

Os que apontam para as esquisitices do calvinismo são acusados de antiintelectualismo. Em revanche, evidencio em minhas letras o pseudointelectualismo travestido de útil, mesmo que o caráter de Deus seja desfigurado, tornado irreconhecível. Não sou antiintelectualista, detesto a ignorância. Deus também, afinal, declarou que seu povo é destruído por falta de conhecimento. A ignorância - e o emocionalismo – é a mãe de muitos aliciados, mormente no cristianismo contemporâneo. 

Estou preparado para estar só, não nas idéias - posto que a maioria dos cristãos de todas as épocas sempre pensou de modo semelhante a mim - mas no enfrentamento do óbvio: não tocar no assunto. É uma maneira de curto-circuitar os efeitos de uma alucinação coletiva que ocasiona deslumbramento em alguns. Em mim prefiro a repulsa de um sistema teórico que torna em turbulência a objetividade bíblica.

Fica o convite ao leitor não discordante que reverbere esta mensagem aos vitimizados pelo terror dissuasivo para que vejam a sua servidão da asneira. Aos compactuantes com o que aqui é combatido que, a partir de uma avaliação intelectualmente honesta, elaborem uma compreensão revisionista e coadunante com as Escrituras. 


Conclusão

Finalizo com uma frase: só as Escrituras. Ironicamente originada na Reforma que concebeu algumas idéias combatidas aqui. A primeira das 5 solas, corretamente criada, mas negada na prática quando idolatricamente os escritos de Agostinho, Lutero e Calvino, além de confissões e catecismos sobrepõem-se em número de citações à própria Bíblia. Somente a leitura da Bíblia é suficiente para que, com os olhos da graça, entendamos as verdades reveladas por Deus. Sola Scriptura é uma necessidade mesmo. Seja muito cauteloso com teorias teológicas que querem enquadrar Deus, colocá-lO numa embalagem religiosa. As estranhas teologias como Graça Irresistível só estendida por Deus aos eleitos, Expiação Limitada, etc, precisam ser postas à prova para que saibamos se estão de acordo com a palavra de Deus ou não. Sigamos sempre o paradigma dos bereanos que procuravam saber se os ensinos de Paulo eram conforme às Escrituras. Você crê que Deus teria o prazer de destinar bilhões de pessoas ao inferno sem lhes permitir qualquer escolha? Mistério??? Isto é rebaixar o Pai celeste à categoria de ser humano vil. É impossível conciliar tais doutrinas com a Bíblia! Mantenha uma distância bem definida da irracionalidade! 

O leitor tem a oportunidade de exercitar seu livre arbítrio. Escolha a quem servir: ao deus Calvino ou ao Deus da Bíblia.

Em Cristo, que nos chamou para vivermos em liberdade, inclusive para discernirmos as doutrinas religiosas humanas feitas divinas, porém sendo contrárias as verdadeiras Doutrinas Escriturísticas.


Por Sandro Moraes


São Luís-MA/Brasil

PREDESTINAÇÃO: EQUIVOCO DAS NOÇÕES FATALISTAS

Razão da existência de tantas religiões, o empenho para conferir significação aos mistérios mais inquietantes da vida é revelador de uma verdade irrefutável: o ser humano é obstinado para tocar o transcendental. Praticamente a história de todos os povos e religiões reflete isso. Os muitos porquês são os propulsores: o próprio esforço pelas respostas é sacralizado dentro da construção do sagrado.

Sendo uma dessas construções, a noção do destino permeia praticamente todas as religiosidades conhecidas, do passado e presente. O cinema, a música e o senso-comum popular reproduzem essa inclinação: que o destino dos indivíduos está traçado desde muito antes do nascimento. A trilogia Matrix abordou o assunto, e os ditados populares, tão repetidos acrítica e ingenuamente, também expressam modernamente tal idéia primitiva: “pau que nasce torto nunca se endireita”, “filho de peixe, peixinho é”, “o que tem de ser será”. Velhos refugos sempre reavivados no imaginário coletivo das sociedades contemporâneas como materialização do controle de pensamento.

No orientalismo essa característica é mais forte.  As religiões orientais são fortemente predestinistas fatalistas: Nada pode impedir o destino já determinado de cada pessoa, não importando o que aconteça.  Reencarnação, karma, transmigação da alma, existências múltiplas em outros planetas..., são muitos os reforços da idéia de destino. Como os mitos, criados para simplificar a compreensão da existência, a predestinação é uma forma de domesticar o desconhecido e mais que isso; em alguns casos, uma maneira de adestrar o próprio homem.  

Uma Noção Primitiva

Idéias presentes nas religiões da antiguidade, sobretudo pagãs, a predestinação e o fatalismo há muito tempo são usadas como instrumento de dominação. Na Índia, os Street Dwellers (habitantes das ruas) morrem aos milhares sob o olhar não desapercebido de uma população indiferente a dor do outro, apêndice da crença na predestinação. “O destino ou karma lhes reservou isto, eles precisam passar por pobreza e privações extremas para que tenham melhor sorte na próxima vida”, pensa a sociedade acerca dos parias, dos socialmente marginalizados. Mesmo os duplos recusam-se a minorar o sofrimento de alguém que está morrendo aos poucos: crença religiosa como instrumento de alienação. O miserável de rua não pode ser ajudado; se for receberá um karma negativo na próxima reencarnação! Madre Tereza de Calcutá era recriminada pelos próprios street dwellers por tentar ajudar ao próximo tão cheio de necessidades e dores. 

Predestinação fatalista, eficaz instrumento de controle ideológico legitimador do domínio político, econômico e religioso das elites dirigentes da Índia. Desumanidade que anula a razão, nutre a passividade e o conformismo. Nunca o conceito de religião ópio teve uma exemplificação tão perfeita. Contudo, mais ardiloso é quando se camufla com roupagem cristã. 

A Predestinação nas Escrituras

Diferente do que ocorre com as grandes Doutrinas Cristãs, a doutrina da predestinação não costuma ser uma unanimidade entre os cristãos. Geradora de controvérsias, possui basicamente dois esquemas de compreensão. Um que é conseqüência da presciência: Deus previu os que seriam crentes e os incrédulos. Os que não recusariam o dom da salvação foram preparados para serem alcançados por ela. O outro deriva de uma noção com características semelhantes ao orientalismo, é determinista, fatalista: Deus, antes da fundação do mundo, predestinou alguns para serem salvos e a maioria para passar a eternidade no inferno. 

Por serem tão antagônicos, ambos os esquemas não podem estar certos, e serem a um só tempo a verdade. Portanto, um é a verdade conforme as Escrituras, o outro fatalmente é heresia. Qual dos esquemas está com a razão?

Predestinação e Livre Escolha no Antigo Testamento

No AT é notória a convicção do povo de Israel de ser nação eleita, povo especial de Deus na terra. Tal predestinação ou eleição nacional baseada em promessas divinas fortaleceu a identidade étnica do povo hebreu e consolidou a religião monoteísta conhecida como judaísmo. As profecias robusteceram a crença na raça de onde viria o Messias, nas promessas de possessão da terra prometida, prosperidade material, povo-feito-evidência do cumprimento dos propósitos soberanos divinos na terra, etc.

Não encontramos, entretanto, base sólida no AT para a construção de uma doutrina que pudesse ser aplicada a pessoas, individualmente, como predestinados por Deus para salvação celestial.

A idéia do livre arbítrio ou livre escolha é mais prevalente no Antigo Testamento no tocante ao relacionamento com Deus – o indivíduo ou mesmo nação tinha o poder da escolha, poderia se voltar para Deus, ou dar as costas à Ele. Vejamos! Observe cuidadosamente as palavras em negrito dos textos selecionados. Atente igualmente para o uso variado de traduções (Almeida Corrigida e Revisada Fiel, Revista e Corrigida, Revista e Atualizada, Nova Versão Internacional) para mostrar que em qualquer tradução é fácil mostrar as incoerências da visão determinista da predestinação.  

Livre Escolha em Lúcifer

Is 14.12,13,14: Como caíste desde o céu, ó estrela da manhã, filha da alva! E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte. Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo. (Versão Almeida Corrigida e Revisada Fiel - ACF)

Ez 28.15-17: Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniqüidade em ti. Na multiplicação do teu comércio encheram o teu interior de violência, e pecaste; por isso te lancei, profanado, do monte de Deus, e te fiz perecer, ó querubim cobridor, do meio das pedras afogueadas. Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; por terra te lancei, diante dos reis te pus, para que olhem para ti. (ACF)

Livre Vontade no Primeiro Casal

Adão e Eva comeram do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, desobedecendo a uma ordem direta de Deus.

Gn 3.6: Quando a mulher viu que a árvore parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se obter discernimento, tomou do seu fruto, comeu-o e o deu a seu marido, que comeu também. (NVI).

Livre Arbítrio na Raça Humana

Dt 30.19: "Hoje invoco os céus e a terra como testemunhas contra vocês, de que coloquei diante de vocês a vida e a morte, a bênção e a maldição. Agora escolham a vida, para que vocês e os seus filhos vivam,...” (NVI).

Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua descendência, (ACF)

Js 24.15; 20-22: Porém, se vos parece mal aos vossos olhos servir ao SENHOR, escolhei hoje a quem sirvais; se aos deuses a quem serviram vossos pais, que estavam além do rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais; porém eu e a minha casa serviremos ao SENHOR.
Se deixardes ao SENHOR, e servirdes a deuses estranhos, então ele se tornará, e vos fará mal, e vos consumirá, depois de vos ter feito o bem. Então disse o povo a Josué: Não, antes ao SENHOR serviremos. E Josué disse ao povo: Sois testemunhas contra vós mesmos de que escolhestes ao SENHOR, para o servir. E disseram: Somos testemunhas.(Versão Almeida Corrigida e Revisada Fiel)

Ec 7.29: Eis o que tão-somente achei: que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias. (ARA)

Ez 18.20: Aquele que pecar é que morrerá. O filho não levará a culpa do pai, nem o pai levará a culpa do filho. A justiça do justo lhe será creditada, e a impiedade do ímpio lhe será cobrada. 

Ez 18.23: Teria eu algum prazer na morte do ímpio? Palavra do Soberano, o Senhor. Ao contrário, acaso não me agrada vê-lo desviar-se dos seus caminhos e viver?  (NVI).

Ez 18.30-32: "Portanto, ó nação de Israel, eu os julgarei, a cada um de acordo com os seus caminhos. Palavra do Soberano, o Senhor. Arrependam-se! Desviem-se de todos os seus males, para que o pecado não cause a queda de vocês. Livrem-se de todos os males que vocês cometeram, e busquem um coração novo e um espírito novo. Por que deveriam morrer, ó nação de Israel? Pois não me agrada a morte de ninguém. Palavra do Soberano, o Senhor. Arrependam-se e vivam! (NVI).

Ez 33.11,12: Diga-lhes: Juro pela minha vida, palavra do Soberano, o Senhor, que não tenho prazer na morte dos ímpios, antes tenho prazer em que eles se desviem dos seus caminhos e vivam. Voltem! Voltem-se dos seus maus caminhos! Por que o seu povo haveria de morrer, ó nação de Israel? A retidão do justo não o livrará se ele se voltar para a desobediência, e a maldade do ímpio não o fará cair se ele se desviar dela. E se o justo pecar, não viverá por causa de sua justiça.

Ez 33.18-20: Se um justo se afastar de sua justiça e fizer o mal, morrerá. E, se um ímpio se desviar de sua maldade e fizer o que é justo e certo, viverá por assim proceder... “Mas eu julgarei cada um de acordo com os seus próprios caminhos”.


Obs - Gostaria de abrir um parêntese aqui para ressaltar como é crucial observarmos com zelo os textos selecionados do livro de Ezequiel. Eles não fariam nenhum sentido se Deus já tivesse predestinados os ímpios para serem condenados. A mensagem de responsabilidade pessoal diante das advertências de Deus é inquestionavelmente objetiva. E em relação a toda a Escritura, os capítulos 18 e 33 de Ezequiel (e acrescento Ezequiel 3.18-21) são os mais claros, com evidencia gritante, quanto ao poder de escolha do homem e sua responsabilidade individual para trilhar os retos caminhos de Deus ou negá-los. Seria a miopia dos predestinacionistas proposital ou inconsciente? Conseqüência de elucubrações preconceituosa e acriticamente selecionadas? Engessamento e nulificação do raciocínio pela crença cega em doutrinas da religião? Tais questionamentos são indispensáveis, uma vez que negar a objetividade e clareza de tais textos pode ser mais que desonestidade intelectual, pode ser resultante do marionetismo de seres humanos na ingênua e vã crença de que são fantoches de Deus. É surpreendente a capacidade da religião para levar pessoas a valorizar ensinos históricos de homens em detrimento das Escrituras. Duas visões, tão diferentes, tão opostas entre si: o que está em jogo é a noção equivocada ou correta do caráter de Deus. As implicações do predestinacionismo são inequívocas: inexistencializam as virtudes de Deus a partir do próprio desvirtuamento delas.


Prosseguindo.

Ml 3.7: “Desde o tempo dos seus antepassados vocês se desviaram dos meus decretos e não lhes obedeceram. Voltem para mim e eu voltarei para vocês”, diz o Senhor dos Exércitos. (NVI)
    

Obs – A chamada constante de Deus para o arrependimento humano também não teria lógica se o próprio Deus tivesse predestinado o homem para a obstinação rebelde e desobediência. Insistir nesse (pseudo) raciocínio, levaria invariavelmente a uma conclusão: Deus seria o responsável e, de fato, o único merecedor de ser culpabilizado pelas rebeliões dos não predestinados para a salvação, exatamente porque foram predestinados à perdição. O óbvio: a predestinação fatalista contraria a lógica e o espírito das Escrituras.  
   

Livre Escolha no Novo Testamento

Mt 7.13:Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela”.


Obs – O que o versículo sugere? Que Deus predestinou a maioria para entrar pela porta que leva à perdição ou que são as pessoas que livremente decidem entrar por ela? Se foi Deus, o texto fica desprovido de sentido e de lógica e não haveria nenhuma pedagogia aqui então.


Mt 10.32,33,40: Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus. Mas qualquer que me negar diante dos homens, eu o negarei também diante de meu Pai, que está nos céus. 
Quem vos recebe, a mim me recebe; e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou (ACF).

Mt 17.12: “Mas eu lhes digo: Elias já veio, e eles não o reconheceram, mas fizeram com ele tudo o que quiseram. Da mesma forma o Filho do homem será maltratado por eles” (NVI).

Mt 23.37: Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste! (ARC)


Obs - Eu li direito? A soberania de Deus foi solapada? Para um predestinacionista, provavelmente sim? Deus quis, mas Jerusalém, ou seja, o povo de Israel não quis? Esse versículo ou deve doer ou causar incredulidade no calvinista. É pertinente perguntar a ele: você considera este versículo uma heresia? Prevaleceu a vontade de homens e não a de Deus? Ou Deus respeita a decisão humana? Em fazendo isto, Sua soberania é ferida?


Jo 3.16-19: Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que este fosse salvo por meio dele. Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, por não crer no nome do Filho Unigênito de Deus. Este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram as trevas, e não a luz, porque as suas obras eram más.


Obs – O versículo 17 também não teria sentido em afirmar que Jesus não veio para condenar o mundo se a maior parte do mundo tivesse sido predestinada a condenação eterna. Você consegue discernir como não é possível conciliar a visão determinista da predestinação com as Escrituras?


Jo 3.36:Quem crê no Filho tem a vida eterna; já quem rejeita o Filho não verá a vida, mas a ira de Deus permanece sobre ele". (NVI)

Jo 6.35: Então Jesus declarou: "Eu sou o pão da vida. Aquele que vem a mim nunca terá fome; aquele que crê em mim nunca terá sede.

Jo 6.51: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Se alguém comer deste pão, viverá para sempre. Este pão é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo”. 


Obs - Mas o sacrifício de Cristo não foi apenas para alguns predestinados como afirma o calvinismo? A Bíblia ensina que o sacrifício vicário foi para o mundo inteiro, ou seja, todas as pessoas. É o caso de se perguntar: a Bíblia é que está errada e o calvinismo certo?


Jo 10.9: Eu sou a porta; quem entra por mim será salvo. Entrará e sairá, e encontrará pastagem.

At 2.41: De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e, naquele dia, agregaram-se quase três mil almas. (ARC)

At 3.14: Vós, porém, negastes o Santo e o Justo e pedistes que vos concedessem um homicida.

Rm 1.16: Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego.

Rm 1.25: Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém.


Obs - Pergunta-se: pessoas mudaram a verdade de Deus servindo e adorando mais as coisas e seres criados por livre escolha ou foram predestinados para isso? Se Deus predestinou como poderia lamentar algo que Ele mesmo predeterminou? 


Rm 4.8: Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa o pecado. (ARA)


Obs - E Deus poderia imputar pecado ou, traduzindo, atribuir culpa a quem já foi predestinado por Ele próprio para pecar? 


Rm 6.19: Falo como homem, pela fraqueza da vossa carne; pois que, assim como apresentastes os vossos membros {para} servirem à imundícia e à maldade, assim apresentai agora os vossos membros {para} servirem à justiça para a santificação.


Obs - Seria de perguntar: Deus primeiro predestinou seus fantoches para o pecado e depois para a santificação? Mais uma vez o livre arbítrio está explícito.


Rm 10.3: Porquanto, ignorando a justiça que vem de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se submeteram à justiça de Deus. (NVI)

Rm 10.12-16: Porquanto não há diferença entre judeu e grego, porque um mesmo {é} o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam a paz, dos que anunciam coisas boas! Mas nem todos obedecem ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem creu na nossa pregação? (ARC)


Obs - Livre Arbítrio de novo, novamente, toda hora!


Tg 1.14: Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz (Almeida Revista e Atualizada - ARA).

Ap 3.20: Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo.


Obs - Acaso o texto sugere que foi Jesus quem predeterminou o “alguém” a abrir a porta ou esse “alguém” tem a liberdade para abri-la ou deixá-la fechada conforme desejar?

A predestinação sugeriria um arrombamento, o que tem relação com o diabo e não com Deus.

Já usamos textos suficientes, em número até exagerado, malgrado muitos outros pudessem ser utilizados para demonstrar verdades insofismáveis: primeiro, que Deus dotou o desejo humano com o poder natural de escolha e liberdade para receber ou rejeitar a salvação oferecida a todos sem distinção, “ao mundo inteiro”. Ninguém é forçado ou pré-determinado para isto. E o mais relevante: o demonstramos com textos do AT e do NT para desmascarar alguns grupos que dizem que o livre arbítrio só existiu até o Éden.

Segundo, que
temos que fazer uma escolha: crer na Bíblia ou no calvinismo. Em ambos, simultaneamente, não é possível, como as próprias Escrituras comprovam.

Desconstruindo  Ídolos

Por outro lado, a idéia de que alguns versículos no Novo Testamento sugerem a idéia de que Deus escolhe alguns para a salvação e outros não, fundamenta-se em interpretações forçosas de textos isolados e descontextualizados, como já demonstramos em artigo anterior. E conforme o texto de 1 Pe 1.2 - que diz “Eleitos segundo a presciência de Deus Pai...” – presciência ou pré-conhecimento de Deus não significa preordenação. O fato de Deus saber com antecedência quem não iria recusar a salvação, não significa dizer que Deus predeterminou arbitrariamente os que seriam salvos. 

Em outros casos, quando Deus escolheu alguns para funções específicas, não implica a exclusão de outros. Os calvinistas, por exemplo, erroneamente interpretam Jo 15.16: Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto, fruto que permaneça, a fim de que o Pai lhes conceda o que pedirem em meu nome”.


Jesus escolheu os discípulos para que, pela instrumentalidade deles, o Evangelho fosse propagado. Pelos “frutos” dos discípulos outros seriam feitos discípulos. E a multiplicação de discípulos resultaria na salvação alcançando muitos.
A visão é inclusiva e não excludente, como interpreta a fé reformada. Não quer dizer que o pequeno grupo de discípulos foi predestinado para o céu e toda uma sociedade não. É semelhante à eleição de Israel. Da descendência de Davi veio o Messias para que por meio dEle a salvação chegasse aos gentios, ou seja, aos não-judeus.   

Em artigos posteriores corrigiremos a equivocada interpretação da fé reformada de outros versículos.

O Livre Arbítrio na História da Igreja

Na igreja primitiva havia uma aceitação natural da livre vontade humana nas questões referentes à vida eterna. Sequer havia discussões teológicas acerca da predestinação ou livre arbítrio nos primeiros quatro séculos da igreja. 

Arsênico Teológico

Agostinho, bispo de Hipona, que por volta de 400 d.C., foi quem criou e introduziu a doutrina da predestinação numa ótica determinista-fatalista na igreja, em controvérsia com Pelágio, que acreditava no poder de escolha do homem para seguir o bem ou o mal. Entendia que a Graça divina cooperava no processo de escolha do chamado divino. Agostinho por seu turno, baseou-se em Romanos 8.30 para elaborar a noção excludente de que Deus, antes da fundação do mundo, havia predestinado algumas pessoas para serem contempladas com a salvação. O grande erro de um dos principais sistematizadores das doutrinas romanistas e um dos pais das alegorizações mais medonhas da Bíblia, foi não ter observado que um versículo anterior (RM 8.29) mostra que a chave da predestinação é a presciência.     

Admirador de Agostinho, o reformador João Calvino exerceu o papel de ser o ampliador e propagador do agostinianismo, alicerçado na Vulgata Latina.

Calvino defendeu a predestinação (fatalista) assim: 

“Denominamos predestinação o decreto eterno de Deus, pelo qual decidiu o que acontecerá a cada homem. Pois não foram criados nas mesmas condições: alguns foram predestinados à vida eterna, enquanto outros à condenação eterna. E uma vez que o homem é criado para alcançar um destes alvos, dizemos que destinado à vida ou à morte.” (Intitutas, 111, 21, 5)


Calvino não poderia ser mais herético e antibíblico. O que ele afirmou entra em choque frontal não só com alguns textos das Escrituras, mas com todo o espírito das Escrituras. Vou usar apenas Romanos 10.12-16 e os versículos do livro de Ezequiel já citados neste artigo para refutar as declarações do “herético perfeito”. Para Calvino o ser humano era um fantoche, marionete nas mãos de Deus. Difamação do caráter divino era o que ele promovia de fato.   

Uma Boa Notícia

Embora a doutrina da predestinação tenha gerado muitas discussões, até extremadas e violentas, felizmente na maior parte dos séculos essas discussões restringiram-se aos círculos teológicos e do alto clero. O povo em geral, como ocorre ainda hoje, aceita naturalmente o livre arbítrio consoante o caráter de Deus apresentado nas Escrituras. Entre os evangélicos e protestantes, os que crêem no livre arbítrio são maioria absoluta. Muitos leigos dão amplas provas de que Deus imprimiu suas leis em nossos corações (Rm 2.14,15) e que são mais sábios que uma multidão de teólogos e como “teologias” podem ser tão nocivas.   

Considerações Finais

Pare e raciocine! Poderia Deus amar menos os seres humanos do que eu ou você? Meu desejo como filho de Deus por adoção e salvo pela graça é que todos sejam salvos, até o mais repugnante assassino ou corrupto. Deus seria capaz de amar menos do que eu, escolhendo amar apenas alguns, destinando milhões para o inferno? Se Deus escolheu alguns para salvar, não seria mais coerente um Deus de amor e perfeito escolher todos para salvar? Deus nos disse para amarmos nossos inimigos, porém nem Ele foi capaz da amar os Seus inimigos, e, detalhe, inimigos que ele próprio criou? É compreensível como o grande pregador batista Charles Spurgeon entreva em crise com a predestinação calvinista, uma teoria da qual apropriou-se. Ele não entendia como, como ser humano, era capaz de amar mais pessoas que o próprio Deus. E evangelizava com o empenho de quem desejava que todo o mundo fosse salvo.

É engraçado como, na impossibilidade de refutar biblicamente todos os versículos apresentados aqui, os predestinacionistas apelam para acusar alguém que não compartilha da neurose do seu ídolo de pentecostal (Não sou pentecostal, nem favorável a alguns questionáveis fenômenos carismáticos), herege ou ignorante, teólogo liberal, humanista, descrente, pseudosalvo, etc, e fazem uso de argumentos “extra-bíblicos” (e anti) com as falas de personagens históricos da fé reformada para “tentar” validar seus posicionamentos, apenas para prosseguirem no erro.

A noção determinista e equivocada da predestinação é antibíblica, pagã, herética, irracional e ilógica. É contrária ao espírito das Escrituras, desvirtua o caráter de Deus e proclama a maldade do Criador porque autor do mal, torna mentirosa a doutrina de queda, torna Deus culpado pelo pecado humano, dispensa o amor e a graça de Deus, torna sem efeito o sacrifício de Cristo por todos, nega a Escritura ao afirmar que Deus não ama a todos, torna sem sentido a evangelização em todo o mundo, posto que Deus já havia pré-selecionado quem seria salvo. Porque então pregar o evangelho a toda criatura? E Jesus nem precisava ter morrido na cruz! O predestinacionismo transforma em mentirosos vários autores da Bíblia! 

Não somos robôs, nem autômatos nas mãos de Deus. Ele nos deu liberdade para recebê-lo ou rejeitá-lo. É irônico como mesmo os pregadores predestinacionistas finalizam seus sermões com o apelo que deixa claro a liberdade de escolha: Quem quer receber a Cristo? Quem quer aceitar Jesus? Quem quer entregar sua vida a Jesus, recebendo-o como Salvador e Senhor?

Que deliciosa ironia!

Já passou da hora da predestinação fatalista e adjacências serem definidas pela igreja como monstruosidades ou aberrações teológicas saídas dos labirintos literários de homens vaidosos tornados reféns de seus próprios obscurantismos intelectuais. 

Tenhamos discernimento e bom senso para rejeitarmos as vacas sagradas perniciosas postas em pedestais teológicos bem altos ou em berlindas douradas. Usemos também de tintas grossas para desmistificar ídolos humanos!



Por Sandro Moraes